EVOLUÇÃO HISTÓRICADados Políticos do Município de São Bento Abade
Nome anterior:Oratório de Campo Belo do Deserto Dourado
Fundador:Padre José Bento Ferreira de Toledo
Fundação:Data: 1752.
Criação:Dispositivo Legal: Decreto Lei nº 148.
Data: 17 de dezembro de 1938.
Emancipação:Dispositivo Legal: Decreto Lei nº 2.764.
Data: 30 de dezembro de 1962.
Comemoração:Dispositivos Legais: Lei Orgânica Municipal (Parágrafo único do artigo 5º) e Lei Municipal nº 987/2009.
Data: 1º de março.
Motivo:O
Decreto Lei nº 2.764 é de 30/12/1962, e a Instalação do Município de
São Bento Abade se deu em 1º de março de 1963, por isso a comemoração da
emancipação no dia 1º de março de cada ano. Clique no link para
visualizar a ata de instalação: http://tinyurl.com/66n79e3
Fonte: Câmara Municipal de São Bento Abade
RESUMO HISTÓRICO
No dia 21 de julho de 1674, saía de São Paulo a expedição do bandeirante1 Fernão Dias Paes Leme, denominada, aura sacra fames,
a sagrada fome do ouro, esta de maior envergadura até então conhecida.
Fernão Dias tinha como meta dois objetivos: encontrar esmeraldas e
consequentemente ocupar o território por ele percorrido. Ficou conhecido
como um dos maiores bandeirantes da história da expansão geográfica
brasileira, ficando atrás somente de Antônio Raposo Tavares, que no ano
de 1633 iniciou a grande invasão da região sul do país. (NOGUEIRA,
1999). Fernão Dias Paes que entre os anos de 1675 e 1678, teria liderado
uma expedição e permanecido por algum tempo na Fazenda de Boa Vista, na
região que posteriormente ficou conhecida como Deserto Dourado e
Deserto Desnudo, tendo aí deixado alguns moradores.
A rota usada pelo
bandeirante Fernão Dias Paes no ano de 1675 foi a mesma que a
representação da Coroa Real Portuguesa usou para pisar pela primeira vez
no solo de Minas Gerais em 1698, através do governador Arthur Sá e
Menezes. Na comitiva que se formou para acompanhá-lo vieram alguns
jesuítas que passaram carta a seus irmãos da Companhia de Jesus,
principalmente ao Colégio da Bahia, enviando notícias de como a viagem
havia transcorrido e o caminho que fizeram em direção às minas gerais.
Desde 1681, encontrava-se na Bahia um sacerdote da Companhia de Jesus, nascido em Luca, na Itália que assinava Johanes Antonius Andreonius.
Veio a convite do septuagenário Padre Antônio Vieira, ascendendo-se
rapidamente na hierarquia da ordem jesuítica, até o posto máximo de
Reitor do Real Colégio da Bahia, como provincial. Foi o sucessor do
Padre Antônio Vieira em 1697, ano em que Vieira faleceu.
O padre
italiano, sucessor de Antônio Vieira, era o jesuíta Antonil que como
secretário do Padre Alexandre de Gusmão para os assuntos jurídicos
recebia as cartas enviadas pelos companheiros que acompanharam o
governador às minas. Diante das informações dos seus irmãos da Companhia
de Jesus, descreveu a viagem do governador Arthur Sá e Menezes em 1698,
deixando ao descoberto as riquezas existentes naquelas paragens e sob o
pseudônimo de Antonil, detalhou sem medir as consequências o caminho
para atingir o tesouro no que redundou na queima imediata quase total
dos volumes publicados.
O caminho para as minas discorrido por ele,
dizia que depois de Baependi, atingia o Rio Grande, em seguida o Rio das
Mortes Pequeno para alcançar a Vila de São João Del-Rei.
Quase nada
se encontra escrito a respeito dos núcleos que existiram entre o Rio
Baependi e o Rio Grande, na época da descoberta das minas de ouro. Sendo
que as terras entre Baependi e Rio Grande, eram que vinham sendo
palmilhadas com estabelecimento de feitorias, as ditas roças que davam
sustentabilidade às bandeiras que cruzavam aquele sertão paulista, pois a
Capitania de São Paulo e do Rio de Janeiro se estendia até o Rio
Grande, a ele pertencendo toda a bacia da margem esquerda do rio.
Em
março de 1717, Dom Pedro de Almeida, o futuro Conde Assumar veio para as
minas e na sua comitiva se encontrava Francisco Tavares de Brito, que
foi encarregado pelo secretário da Coroa Portuguesa, o Padre Alexandre
de Gusmão, de relacionar todas as roças de abastecimento que
encontrasse.
Esta descrição, conhecida como Itinerário de Francisco
Tavares de Brito, tornou-se um dos documentos mais importantes, pois ela
apontou núcleos de mineração, pousos e roças que deram origem às atuais
cidades que hoje se apresentam no “Caminho Velho3” da Estrada Real.
Os
núcleos entre Baependi e o Rio Grande, estavam se formando quando foi
feita a descrição do “Itinerário de Francisco Tavares de Brito”. Foram
estes mesmos núcleos que deram origem às cidades de São Bento Abade,
lembrando o eremita Padre Bento Ferreira Vila Nova, o protagonista do
segundo atalho que se deu para o Caminho Velho.
1 - A Coroa
portuguesa fomentava e incentivava o espírito de aventura, onde,
organizava grandes expedições de caráter oficial sob sua própria
assistência e oferecia aos aventureiros pioneiros altas honrarias,
mercês, além de conceder terrenos e certa quantidade de ouro e pedras
preciosas aos desbravadores.
2 - A obra do jesuíta Antonil
referenciada é “Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e por suas
minas”, publicada no ano de 1711.
3 - Tinha por objetivo ligar a
Capitania de São Paulo às Minas, ligando o território mineiro ao mar.
Era também conhecido como Caminho de São Paulo, saía do porto de Santos e
de Parati para chegar a Vila Rica e Sabará, passando antes por São João
Del Rei. A viagem durava em média 60 dias, pois o seu percurso era
muito extenso e acidentado. (CHAVES, 1999, 85).
No itinerário
descrito por Tavares de Brito, o caminho bandeirante que se dirigia para
as cabeceiras do Rio Ingaí apontou uma roça de nome Angay, uma das
primeiras a suprir os que ali chegavam à procura de alimentos.
O nome
angay, que significa águas do diabo ou endemoniadas, já indicava a
natureza do rio, onde naquele trecho se enfurece apertado entre as
serras da Bela Cruz e do Inferno, ao Sul do município de Luminárias
(Carta do Brasil – Luminárias, Folha SF 23x-CIV-1-IBGE, 1975).
Como descreve Pontes, “[...]
o Rio Angai tem um curso muito desordenado e apresenta o medonho
caldeirão conhecido com o nome de Cachoeira do Inferno ao transpor a
Serra das Luminárias e a entrada da Cachoeira do Funil, verdadeiro
sorvedouro, ao passar pela Serra do Campestre”. (PONTES,1970,113).
Nas
proximidades da roça Angay, proveniente da força das águas nas
ribanceiras, desenvolveu-se uma mineração de aluvião extensa, de onde
toneladas de pedregulhos e seixos rolados ali se encontram atravessando
os séculos.
O Caminho Velho seguia margeando o Ribeirão Manuel da
Costa Gouvêa, denominação esta do Rio do Cervo em 1717. Nesta
proximidade o religioso Frei Antônio Pacheco obteve em 1711 a sesmaria
que vendeu ao português Manoel da Costa Gouvêa, passando a ser conhecida
como a Paragem do Ribeirão Boa Vista, primeiro núcleo de origem da
cidade de Carmo da Cachoeira (APM, SC-09:249).
Para compreender a
história da formação do município de São Bento Abade, é preciso entender
as histórias das regiões circunvizinhas, pois os núcleos formados se
interdependiam. Sendo que a rota dos bandeirantes, descrita por Antonil,
sofreu uma grande alternação se comparada ao Itinerário de Francisco
Tavares de Brito, que mencionou as diversas roças por onde passou o
Conde de Assumar, em 1717.
Ao minerarem os ribeirões do Rio do Cervo,
principalmente no Palmital do Cervo onde se originou a Paragem do Cervo
e do Bom Caldo, os bandeirantes se dirigiram para o côncavo entre as
serras da Bocaina e do Campestre onde se estabeleceu o Guarda-mor Diogo
Bueno da Fonseca, cuja sesmaria denominou de Cachoeirinha, primeiro
núcleo que deu origem à cidade de Itumirim. Daí seguiu em direção à
barra do Rio das Mortes Pequeno, atravessando primeiro a passagem do Rio
Grande, a que se chamou de Porto Macaia.
Por este tempo, por volta
de 1735, surgiu na freguesia a figura de um padre de grande vulto e que
se tornou vigário encomendado de Carrancas. Tratava-se do padre
português, Bento Ferreira Vila Nova, natural da Freguesia de Santa
Marinha da Vila Nova, bispado do Porto, filho do Capitão Manuel Nogueira
e de Margarida Ferreira, irmão do Coronel José Ferreira Vila Nova. (A
Voz Diocesana de 31.01.1756 In: LEFORT, 1972:57).
O Padre Bento
Ferreira é considerado pela historiografia como o primeiro a habitar as
terras da região, sendo o construtor da primeira ermida sob a invocação
de São Bento onde administrava os sacramentos, em meados do século
XVIII, na sede de sua fazenda, denominada Campo Formoso e Campo Belo.
Foi o primeiro marco de fé da localidade. Na época de sua construção
esta área teria pertencido à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição das
Carrancas.
A importância do Padre Bento, no contexto do povoamento da
área é bastante expressiva, com provisão de Altar Portátil, ministrava o
sacramento a pessoas de várias localidades, pois percorria grandes
extensões de terra.
Os padres que recebiam a provisão de altar
portátil, geralmente eram padres que acompanhavam os bandeirantes em
suas conquistas e os capelães assim oficiavam estes descobertos como
parte de um determinado bispado. O altar portátil era conduzido pelo
padre que viajava por lugares muito afastados, onde era difícil para o
cristão ir à procura de sacramentos. Tratava-se de uma caixa, que se
transformava em altar, assim como todos os objetos para a missa,
conduzida por um cavalo, dirigido por um pajem que ajudava nas missas, e
em outro animal, o padre e sua pequena bagagem. Segundo Monsenhor
Lefort, um dos maiores historiadores do Sul de Minas, o Padre Bento
Ferreira foi um grande desbravador de terras, sendo o responsável por
várias descobertas de outros caminhos em busca de ouro, abrindo a
Campanha do Rio Verde, um caminho sem morros nem alagadiços, e mais
curto que o conhecido Caminho Velho (LEFORT, 1972).
Senhor de muitos
escravos, requereu em troca dos serviços prestados, em 1752, ao
Governador da Capitania das Minas Gerais, José Antônio Gomes Freire, uma
sesmaria denominada Deserto Dourado. Desta sesmaria
posteriormente surgiram os núcleos que deram origem às cidades de São
Bento Abade, Luminárias e Carmo da Cachoeira.
Muito antes de 1752, o
Padre Bento se encontrava no exercício da sua ação caritativa, pois no
auto de medição e demarcação da sesmaria de seu irmão, Coronel José
Ferreira Vila Nova, na Fazenda Serra Branca, em 2.10.1751, o escrivão
diz que o mesmo estava sendo feito [...] no sítio do Deserto Dourado junto ao Rio Engahi e moradas do reverendo padre Bento Ferreira, freguesia das Carrancas da Vila de São João Del - Rei, Comarca do Rio das Mortes, donde estava pousado o doutor Gaspar da Rocha Pereira, Intendente da Fazenda Real”. (MRSJDR-Cx. 13:14).
Quando
o Padre Bento Ferreira requereu, na mesma data, em 1752, o registro de
suas terras em carta de sesmaria, ele citou que nelas havia uma
passagem, que liberava de graça por canoa aqueles que quisessem
atravessar o Rio Ingaí, utilizando-se do caminho que ele fizera a
dispensas de ninguém, sozinho e que encurtava muito a estrada do Caminho
Velho.
O padre, portanto, construiu uma vereda, expressão que se
dava àquele que não era ainda do conhecimento da Coroa Portuguesa.
Tornou-se o trajeto comum dos viandantes, principalmente de Campanha a
São João Del-Rei. Depois de passar o Rio do Peixe, perto de Três
Corações, seguia-se para Oeste, passando por Branquinho na Boa Vista
(Carmo da Cachoeira) em direção à sua Fazenda Campo Formoso de onde se
partia para o Ribeirão das Luminárias, alcançando a direção para São
João Del-Rei, através da cava ou caveira da Venda Nova, do outro lado da
Serra da Fortaleza.
O caminho a que ele se referiu sem morros nem
alagadiços, era o que antes de chegar à Fazenda Serra Branca pertenceu a
seu irmão e deu origem à Fazenda Pirapetinga de João Marques Padilha,
por onde passou Spix e Von Martius. O alagadiço se encontrava ao passar
pelo Branquinho, Joaquim José Gomes Branquinho, proprietário da Fazenda
da Boa Vista, hoje Carmo da Cachoeira.
O Pe. Bento Ferreira faleceu
em Jaguará, termo da Vila de São José, na Comarca do Rio das Mortes no
ano de 1784 deixando um enorme latifúndio em testamento, sendo a metade
de seus bens como patrimônio da Capela, como descreve em seu inventário post-mortem iniciado
na Vila de São João Del- Rei tendo como inventariante o Capitão Antônio
José Ferreira. Declarou o inventariante que o Padre Bento Ferreira
faleceu com seu solene testamento no
Jaguará, termo da Vila de São José, desta Comarca do Rio das Mortes. Com relação aos bens e dívida ativa, devia “[...] o inventariante Capitão Antônio José Ferreira, ao testador Padre Bento Ferreira,
por uma escritura de compra da Fazenda do testador chamado o Campo
Belo, com todos os seus pertences e os mais bens que da mesma constara,
cuja compra, fez em vida ao Padre testado por 3:200$000”. (MRegional.SJDR-1784Cx).
O
Padre Bento Ferreira foi sepultado na própria Igreja-sede, conforme os
costumes da época. Alguns anos depois, a capela de Ermida passou a ser
denominada Capela de São Bento.
As primeiras notícias acerca das
terras em que hoje situa o município de São Bento Abade datam de 1752,
com a sesmaria denominada Deserto Dourado, concedida ao Padre José Bento
Ferreira de Toledo nesse mesmo ano. Teria ele sido o primeiro homem
civilizado a habitar a região e uma capela por ele construída em sua
fazenda, denominada Campo Formoso e Campo Belo, como era conhecida, foi o
primeiro marco de fé da localidade. Esta área teria pertencido à
Paróquia de Nossa Senhora da Conceição das Carrancas, àquela época.
O
Sacerdote ali se fixou para a catequização de índios e exploração
agropastoril de sesmaria que lhe foi concedida. Em meados do século
XVIII construiu a capela de São Bento, dotando-a de um patrimônio. Em
1752 é instalada a sede da Fazenda São Bento do Campo Belo, onde hoje se
localiza o município de São Bento Abade.
Na época da ocupação feita
pelo Pe. Bento Ferreira naquelas terras, várias famílias se fixaram ali,
atraídas na época pela mineração do Ouro e pela fertilidade das terras
propícias à agricultura e pecuária, atividades que até hoje predominam
na economia do município.
A história conta que em 1794, foi
construída a primeira casa do povoado pelo Sr. Manoel Francisco
Ferreira. Em seguida instalou-se no povoado o Capitão Manoel Álvares,
seguido de outras famílias, aumentando consequentemente o núcleo
populacional.
Não se tem informações precisas sobre a data de
fundação da 1ª Capela, mas segundo o livro do tombo da Igreja Matriz São
Bento Abade de (1925–1995), esta data é aproximadamente em torno do ano
de 1700.
Segundo o livro de tombo, é descrito o seguinte fato:
“A
Capela estava no meio do mato e momento esse aproveitada para
cemitério, não só dentro como fora, 4 metros em roda, como se vê de
vestígios de muros (...) nas proximidades da capela havia uma figueira
monstruosa, e vestígio de casa, bem como de porta, pois ainda hoje
(1920), existe lá “Bojiticaleinas” que
proviam ser do tempo do fundador Pe. Bento Ferreira, porque o
desenvolvimento destas árvores é muito lento e também de muita duração
(...) em 1911 tiveram necessidade de edificar um novo cemitério, ponto
escolhido pelo pároquo Nery e para isso foi preciso contrair um
empréstimo ao Sr. Adelino José Ferreira, que era pago pelo rendimento e
depois o resto por uma “ Campra Perpétua” ou “Compra Perpétua”.
Estiveram vários procuradores do patrimônio, como Aurélio Nadur, que
prestava contas ao reverendíssimo Cônego César, vigário de Três Corações
e encarregado desta paróquia, e assim sumiram com o livro ou assentos
de receita e despesas. Após Aurélio Nadur, o próximo procurador foi o
Cel. Domingos Ribeiro de Rezende, e este tinha lá um encarregado: José
Virgínio, que tido, recebia como aforamento as posses, arrendas de
pastos e receita do Cemitério4”.Em 1916, Pe. João Paiva de
Amaral, tomando posse da paróquia de Carmo da Cachoeira e estando anexa a
esta Capela, a de São Bento, relatou no livro de tombo: “(...) sei
que estava indo tudo muito mal desorganizado e muitas pessoas se
queixavam que ganhavam nada para consertar a capela nem pagariam as suas
arrendas porque não sabiam para quem ia esse dinheiro e que o dito José
Virgínio cortava madeiras, vendia e utilizava-se do patrimônio como propriedade sua. Em vista disso pedi ao Cel. Domingos Ribeiro de Rezende que me entregasse o patrimônio com a o fim de concertar a capela ou fazer outra com rendimento dele, o que de boa vontade me cedeu. Em 1917, organizei uma comissão como consta no livro desta paróquia sendo presidente, eu, Pe. João Paiva do Amaral, vigário, secretário Antônio José Ferreira, tesoureiro João Vilela Rezende, Anjarias João Procópio e Augusto Marciano da Costa, todos esses de boa vontade aceitaram e o Sr. Bispo D. João Almeida Farrão concedeu o alvará. Começamos por tirar os livros e todos os poderes do Sr. José Virgínio e fizemos novos arrendas com tabelas como se vê no livro competente e assim com estas rendas pagamos uma dívida ao advogado da questão que ainda lhe restavam que foi de 1500$, como consta do livro da fabricada capela de São Bento. Em 1919, fomos obrigados a reconstruir o cemitério por que uma tempestade que por lá passou derrubou alguns muros bem como muitas casas do arraial e como tivesse necessidade de aumentá-lo, aproveitamos esta ocasião onde se gastou bastante. Assim consta no livro de contas. A capela foi, em1917, visitada pelo reverendíssimo Bispo, como consta o livro de tombo de Carmo da Cachoeira e sua excmª. disse que a capela precisava ser edificada, mas até esta data foi impossível porque depende de haver fundos para levar a Calia Talismã, os parâmetros lá existentes foram ofertados por fazendeiros que já as possuíam, bem como toalhas etc.
Finalmente ter custado muito pôr as coisas no eixo porque o povo estava
muito mal habituado e por isso não querem pagar os aforamentos das
posses e arrendas. Em 1920, o Sr. João Procópio deu um pequeno gazamento que possuía e foi instalado na capela onde ficava bem iluminada por dentro e por fora5.” A segunda referência encontrada a respeito da capela de São Bento foi registrada no documento das Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade, registro da passagem do Bispo de Mariana pela capela entre os anos de 1821 e 1825: “A capela de São Bento do Campo Belo, hoje a cargo do pároco de Carrancas, e que o de Lavras quer que lhe pertença e os mesmos povos do rio que divide a de Lavras com a de Carrancas, dista de Lavras sete léguas e meia, e de Carrancas nove e meia; antes desta desmembração tinha 850 aplicados e hoje só tem 214 e 21 fogos. Os antigos e aplicados da dita capela (inclusos os paroquianos de Lavras) que estão mais remotos, distam 3 léguas e meia; todos os mais vão minguando progressivamente em distância. Não tem capelão há mais de 5 anos; dizem ser o motivo, 1°porque estando encravada em terras da fazenda denominada Campo Belo, os possuidores dela temem a sua frequência por não se verem na precisão do aldeamento e povoação do lugar. 2° por estar repartido para duas matrizes o povo que fazia a sua
aplicação. 3°por falta de sacerdotes. 4° porque tendo essa capela certo
patrimônio a que está responsável (dizem) o capitão Manuel Joaquim
Álvares dessa aplicação ou vizinho dela por seu antecessor, se torna
talvez mais estimável o silencio dessa dita capela. Os antigos aplicados pertencentes à freguesia de Lavras montam hoje ao número de 1. 836.” E
ao final do século XIX, a situação de abandono da capela,
apresentava-se como cenário desolador aos olhos de José Teixeira
Meirelles, que, visitando a área, deixou o seguinte registro: “É um vasto templo edificado num planalto limitado por dois córregos orlados de espesso mato. É esta igreja o único edifício daquele sítio. Dizem os antigos que houve outrora ali uma importante fazenda de criar pertencente a um venerando sacerdote por nome padre Bento, o qual com seu trabalho e as expensas suas fez construir esse templo, indicando-o a São Bento, santo de seu nome, cuja imagem ainda existe. Os muros e os sinais que ali ainda perduram atestam a importância dessa extinta fazenda. Tudo isto dá um aspecto curioso à igreja, único edifício que tem resistido à esponja destruidora do tempo. (...)causa tristeza ver esse templo em tão
grande abandono! Dirse-ia que algum terrível anátema fora lançado nesse
sítio, destruindo todas as casas e poupando somente a casa de Deus”.
(...) “O confeccionador destas linhas visitou o templo de São Bento e
causou-lhe muita tristeza vendo-o sem uma humilde choupana sequer nos seus arredores. Ouve-se somente o canto de um ou outro pássaro que ali esvoaça. A igreja tem por zelador um homem idoso e esquisito de nome Ignácio Lopes que é abundante em pilherias e em narrar fatos antigos. (...), que mora distante dela”. (MEIRELLES, 1922).
A
atual Matriz de São Bento talvez seja o quarto templo, construído no
mesmo local, em culto expressivo de anos de tradição. A religião
predominante é a Católica, sendo festejado anualmente com grande festa o
padroeiro da cidade, “São Bento, no dia 1º de Março”.
Diz-se ainda
que, frequentemente, nos primeiros domingos de cada mês, o vigário de
Nossa Senhora de Cachoeira do Carmo – hoje município de Carmo da
Cachoeira – povoado mais próximo, era convidado, pelos habitantes mais
próximos, para celebrar a missa, única ocasião em que a área ficava
movimentada.
Com relação à divisão territorial de Minas Gerais e a
formação da freguesia de São Bento Abade, esta ocorreu durante o período
colonial, primeiro em terras de Ouro Preto (capital da província), de
onde se desmembrou São João Del Rei, em 1713. Durante o século XIX,
novas e sucessivas divisões, faziam aumentar o número de cidades, e, ao
mesmo tempo, diminuir as áreas desmembradas dos municípios mais antigos;
o Império lançava então as bases de sua administração, aumentando a
divisão territorial com vistas a um melhor controle da área. Lavras foi o
município criado em 1831, com seu território desmembrado de São João
Del Rei. De Lavras, em 1841, desmembrou-se Três Pontas e daí Varginha,
em 1881. As próximas divisões aconteceriam sob os auspícios da
Republica: Carmo da Cachoeira, desmembrado do território de Varginha em
1938 e finalmente nossa área alvo: São Bento Abade, transformado em
distrito de Carmo da Cachoeira na época de sua emancipação.
O povoado
foi elevado a distrito pelo Advento de Decreto Lei 148 de dezembro de
1938, com denominação de São Bento, pertencendo a Carmo da Cachoeira. Em
31 de dezembro de 1945 teve seu nome mudado para Eremita e, finalmente,
por intermédio da Lei 2.764 de 30 de dezembro de 1962, foi criado o
Município com denominação de São Bento Abade e seu território foi
desmembrado de Carmo da Cachoeira.
A origem toponímica do município
se deve à devoção do seu povoado ao eremita São Bento, a quem o Padre
José Bento chegou a dedicar uma capela construída na fazenda Campo Belo.
Mais tarde o povoado de São Bento, conservando esse nome, quando passou
a distrito. Entretanto foi emancipado com a denominação de São Bento
Abade a fim de distingui-lo daqueles municípios cujos nomes eram
semelhantes. (BARBOSA, 1971,446-447).
Segundo a tradição oral de São
Bento Abade, no final do século XVIII e início do século XIX, teria
ocorrido na região a saga do lendário Januário Garcia Leal, herói
vingador e principal protagonista da história.
Januário Garcia Leal,
(o lendário “Sete Orelhas”), nasceu em Jacuí, sul de Minas Gerais, por
volta de 1761 e faleceu em Lava Tudo, Lages, no estado de Santa Catarina
no ano de 1808. Apesar de ter vivido sempre na região sudeste do país,
especificamente em Minas Gerais. Era filho de Pedro Garcia Leal
(açoriano, filho de João Garcia Pinheiro e Maria Leal) e de Josefa
Cordeiro Borba (nascida na Freguesia de Cotia - SP, filha de Inácio
Diniz Caldeira e Escolástica Cordeiro Borba). Januário provinha de uma
importante família e estava rodeado de familiares também não menos
importantes aos olhos da administração colonial portuguesa. Foi casada
com Dona Mariana Lourença de Oliveira (filha de João Lourenço de
Oliveira, natural de São João Del-Rei, e de Rita Rosa de Jesus, da
Freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo), com quem teve
descendência.
Em 21 de janeiro de 1802, Januário recebeu carta
patente assinada pelo Capitão General da Capitania de Minas Gerais,
Bernardo José de Lorena, nomeando-o como Capitão de Ordenanças do
Distrito de São José e Nossa Senhora das Dores.
Até esta época
Januário era um pacato fazendeiro, que vivia na propriedade denominada
Ventania, situada no Sul de Minas Gerais, juntamente com sua família e
escravos. Tinha uma vida comum a de todos de seu tempo, até que um
acontecimento trágico mudara definitivamente os rumos de seu destino: a
morte covarde de seu irmão João Garcia Leal, que foi surpreendido na
localidade de São Bento Abade por sete homens e atado nu em uma árvore,
onde foi assassinado a sangue frio, tendo os homicidas, retirado
lentamente toda a pele de seu corpo.
Na época, a burocrática justiça
colonial mostrou-se absolutamente indiferente ao episódio, deixando
impunes os sete irmãos que haviam perpetrado a revoltante barbárie. Ante
o indiferentismo dos ineficientes órgãos de repressão à criminalidade,
Januário associou-se a seu irmão caçula Salvador Garcia Leal e ao tio
Mateus Luiz Garcia e os três capitães de milícias assumiram pessoalmente
a tarefa de localizar e sentenciar os autores do horrendo crime, dando
início a uma perseguição atroz, relembrando obscuros tempos da história
da humanidade, quando a justiça ainda era feita pelas próprias mãos. A
lei escolhida por Januário, chefe do bando de justiceiros privados, foi a
de Talião – morte aos matadores – com o requinte estarrecedor de se
decepar uma orelha de cada criminoso, juntando-as em um macabro cordão
que era publicamente exibido como troféu pelos implacáveis vingadores.
Somente depois de decepada a última orelha dos criminosos é que Januário
deu-se por satisfeito. Segundo a tradição oral de São Bento Abade,
Januário Garcia Leal, o alcunhado “Sete Orelhas”, teria sido considerado
um dos mais terríveis facínoras de Minas Gerais, sendo sua história
comparada a do lendário cangaceiro Lampião. É importante frisar que o
“Rei do Cangaço” atuou no Nordeste Brasileiro, em uma época e em um
contexto completamente diferentes da realidade mineira.
No entanto,
Januário e seu bando sacudiram a Capitania de Minas Gerais, se
sobrepondo às autoridades policiais e judiciárias, conquistando fama e
respeito com seus impressionantes feitos, o que de fato o consolidou
como um “herói”, um triunfo importante para a construção de seu próprio
mito. (SOUZA, 1973).
No século XIX, várias famílias passaram a povoar
a região do Tira Couro, atraídas pela mineração do ouro e pela
fertilidade das terras propícias à agricultura e pecuária, ficando a
região no entorno da Fazenda São Bento do Campo Formoso pouco povoada,
uma vez que seus proprietários temiam o povoamento do local, segundo
Frei José da Santíssima Trindade que visitou o local entre os de 1821 e
1825. Este fato contraria a regra geral de desenvolvimento das povoações
mineiras, que tinha como principal característica a Igreja como
elemento aglutinador.
Em 1831, o município de Lavras foi criado,
sendo seu território desmembrado de São João Del Rei. De Lavras, em
1841, desmembraram-se Três Pontas e daí Varginha, em 1881. As próximas
divisões aconteceriam sob os auspícios da Republica: Carmo da Cachoeira,
desmembrado do território de Varginha em 1938 e finalmente São Bento
Abade, transformado em distrito de Carmo da Cachoeira pelo Decreto lei
148 de Dezembro de 1938, com a denominação de São Bento.
Em Dezembro
de 1945, teve seu nome mudado para Eremita e, finalmente, por intermédio
da lei 2.764 de 30 de Dezembro de 1962, criou-se o município com
denominação de São Bento Abade e seu território foram desmembrados de
Carmo da Cachoeira.
Em 1963 foi comissionado à função de intendente
Municipal pela lei 2.764, o Sr. Estácio de Sá Vilela, que administrou o
município de 01 de Março a 23 de agosto do mesmo ano, passando o cargo a
Flávio Fachardo Junqueira, prefeito eleito, que administrou a cidade de
1963 a 1967.
Segundo relatos de antigos moradores da cidade,
enquanto Distrito de Carmo da Cachoeira, São Bento era apenas um pequeno
povoado com aproximadamente 120 casas com iluminação a motor e sem
fornecimento de água encanada, esta era retirada de chafarizes
localizados nas ruas. O arraial era dividido em apenas três ruas, sendo
elas a Avenida Miguel Nassar, a Rua João Vilela e a Rua Padre Bento
Ferreira.
O crescimento populacional também foi lento até a década de
1950, quando contava com 461 habitantes, sendo 234 do sexo masculino e
227 do sexo feminino. Vinte anos depois, de acordo com o censo de 1970,
somavam-se 1.491 habitantes, sendo 727 na zona urbana e 746 na zona
rural. Na década seguinte, 1980, o número de habitantes aumentou
expressivamente na zona urbana: eram agora 1.172 e teve leve diminuição
na zona rural. Daí em diante, houve um sensível decréscimo em relação à
população de zona rural e aumento em relação à população da zona urbana.
Isso certamente se deve ao fato da Prefeitura Municipal, depois da
emancipação, ter doado lotes durante certo período de tempo, com a
condição do beneficiado, construir em prazo determinado. Na década de
1990, mais precisamente em 1991, o numero da população urbana havia
quase dobrado enquanto a da zona rural diminuía quase pela metade. Eram
agora 2.175 habitantes no primeiro e 381 no segundo, num total de 2.556
habitantes. Em 2000, a zona urbana contava 3.453 e a rural 284, somando
3.737 habitantes. Atualmente, de acordo com dados do IBGE, São Bento
Abade abriga aproximadamente 4.281 habitantes, sendo que uma média de
somente 295 habitantes na zona rural e o restante na zona urbana.
O
desenvolvimento econômico de São Bento Abade está relacionado com a
pecuária e agricultura, com destaque para as produções de feijão, café,
batata inglesa, cana de açúcar, arroz, mandioca e milho, que a partir de
1985 recebeu grande incentivo tecnológico, o que lhe rendeu no ano de
2004, o título de maior produtor agrícola em menor área. A pecuária
leiteira também é de grande importância econômica para o município, os
milhares de litros de leite produzidos são utilizados para a fabricação
de queijo e outros derivados pelo laticínio local, e o excedente enviado
para as cidades vizinhas.
O ensino também foi beneficiado com a emancipação. Em 1963, foi inaugurada a “Instrução”, escola que funcionava em um salão, onde as crianças podiam estudar até a terceira serie primaria e, caso desejassem continuar, tinham que ir a Carmo da Cachoeira para fazer as demais séries. A escola localizava no pavimento superior da antiga cadeia do município, na Avenida Miguel Nassar esquina com Rua Odilon G. dos Santos. Mais tarde, o local passou a ser da Prefeitura, e a mesma foi transferida para onde é hoje a Casa do Sr. Vitor Sinésio.
Maria das Graças Menezes Mourão